Dentro da minha experiência clínica, pude perceber que, no trabalho com o sofrimento mental grave nós, psicólogos, somos o grande instrumento de trabalho.
Pelo sujeito com sofrimento mental grave não ter construído a sua linha de clivagem, que separa o eu do outro, somos implicados o tempo todo no processo terapêutico.
Seja na construção do psicólogo enquanto mais um personagem dos delírios do sujeito, ou na atribuição, por parte do sujeito, de características físicas próprias do psicólogo, ou, até mesmo, na atribuição de desejos e vontades que são do sujeito mas este, por estar em grande sofrimento, não consegue discriminar o que é só dele, o que pode ser do terapeuta e o que pode ser dos dois.
Diante destas questões que encontrei várias vezes nos meus atendimentos, pude perceber a importância de, de fato, devolver o poder de verdade à palavra dele e me implicar no processo ressaltando as minhas diferenças.
O NÃO que ajuda a delimitar a diferença, que ajuda o sujeito a se construir e perceber o que pode ser apenas dele. A linha que é delimitada por mim para que, mais para frente, possa ser delimitada por ele.
Várias vezes me percebi "pegando" minhas características físicas, que o sujeito tinha se apropriado, de volta. Uma forma de ajudá-lo a delimitar o seu próprio corpo. Ou devolvendo desejos que eram apenas do sujeito e que este tinha atribuído a mim, ajudando a reconhecer e perceber suas próprias vontades.
Não há como deixar de dizer que este processo é altamente angustiante, invasivo. Em muitos momentos me sentia nua, despida na frente do sujeito, já que este tocava em pontos muito frágeis de mim, sem que eu pudesse fazer nada diante disto. Eles simplesmente estavam ali, expostos, sem que eu tivesse escolhido colocá-los a tona. E eu, naquele momento, me percebia na posição de olhar para este ponto e ter que lidar com ele, nem que seja para assumir que ele existia em mim.
Diante da minha prática, pude perceber que não há como se anteder o sujeito com sofrimento grave sem se implicar, e, consequentemente, sem se perceber um pouco mais e, assim, trabalhar, também as suas próprias questões!
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
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3 comentários:
Para este assunto:
A clínica da psicose do Durval Checchinato fala um pouco sobre a ausencia da linha de clivagem do sujeito... muito bom!
Maravilhoso seu relato sobre os atendimentos..vc montou uma clínica,Ana Paula?
beijos
Oi Janaína...
obrigada!!!
Montei sim... Atendo no meu consultório.
Mas hoje em dia não tenho nenhum cliente com sofrimento mental grave... 8(
Quero voltar à ativa!
Este mês de março promete!!!!!!
Beijos
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