quarta-feira, 19 de março de 2008

Importância dos centros de convivência

Esta semana comecei meu curso em um centro de convivência aqui de Brasília.
Conhecendo o trabalho deles pude refletir acerca da importância de um espaço de convivência entre os usuários.
Espaço este que pode ser visto, em primeiro momento, como um espaço de distração apenas, mas que carrega em si uma grande importância. Tudo que se faz ali pode se tornar instrumentos para a facilitação da manifestação da subjetividade.
Penso no espaço de convivência como um espaço para a subjetivação do sujeito... é ali que ele pode, pelos trabalhos realizados, manifestar o seu sofrimento... dar voz a ele... e, assim, ter a chance de dar sentido aos seus sintomas, perlaborando a sua própria história....
Ja repeti várias vezes esta frase: dar sentido ao sintoma! Mas, esta semana, com as discussões que presenciei no centro de convivência, parei para sentir o que isto, de fato, pode representar para o usuário!!!
Uma das pessoas que faziam parte do grupo de discussão pontuou a visão diferente que, nós psicólogos, temos sobre o sintoma e o sujeito... para ele, nós vemos o sujeito enquanto produtor do sintoma, enquanto para a medicina tradicional, o sujeito apenas porta um sintoma...
Diante deste comentário e, partindo do princípio que a ideologia médica tradicional é muito forte em nossa cultura, posso concluir que, em muitos casos, quando o sujeito com sofrimento mental chega para ser atendido, ele se percebe acometido por uma doença... é como se os sintomas não fizessem parte da sua configuração subjetiva... ele apenas porta uma doença, um sintoma que precisa ser extirpado. Uma posição passiva diante do sofrimento.
A partir do momento que ele encontra, nestes espaços, instrumentos que o ajudam a expressar o seu sofrimento, a sua subjetividade, pode ficar mais claro para ele o quanto que os seus sintomas são produzidos por ele mesmo...

Com isso, penso que os instrumentos de subjetivação, presentes nos Centros de Convivência, podem ajudar o usuário a se apropriar dos seus sintomas, da sua subjetividade, do seu próprio sofrimento e, da sua história!
Mas isso é assunto para um próximo post...

sábado, 8 de março de 2008

Para além da derrubada dos muros dos hospitais...

A reforma psiquiátrica está além da extinção dos manicômios!!!!

Há que se reformar, questionar os nossos valores e construtos sociais que sustentam a crença de que o sujeito que sofre não tem voz... nem lugar na nossa sociedade.
De acordo com Rodrigues (2003) a “questão da subjetividade, espaço onde se decide o núcleo da nossa existência, vive rodeada por muros que cercam nossas mentes, tais como poder, rótulos, julgamentos, preconceitos”. Muros estes que impedem a concretização dos objetivos da reforma psiquiátrica por destituírem do sujeito que sofre a sua posição de cidadão, com seus direitos e deveres perante a comunidade.
Rodriques (2003) coloca em seu artigo dois pilares que devem ser desconstruídos para que o sujeito com sofrimento mental possa ter a sua cidadania recobrada em nossa sociedade: O poder e o estigma.
Diante disto, pense em quantos paradigmas temos que quebrar, que questionar em nossas mentes para poder se abrir para um contato mais complexo com o sujeito que sofre! Sinto que esse é o nosso maior desafio!
Estudar, ler, repetir o que está escrito é fácil, mas...
Se questionar...refletir...se reformar... se perceber... e se modificar... movimento angustiante esse! Mas sinto que é aí também que reside minha motivação.
Não há como querer trabalhar com saúde mental sem ter um gosto pelo desafio, pelo incerto, pelo descontrole...
Neste sentido, concordo com Gonzalez Rey (2002) quando defende que para ser ter uma visão complexizada do sujeito, há que se mudar a forma como construímos as nossas teorias. E como acredito que as nossas teorias acabam tornando-se a nossa referência de vida... impossível não se implicar neste processo!
Ainda de acordo com o mesmo autor, não há como se estudar um fenômeno tão complexo e singular quanto o ser humano utilizando paradigmas das ciências exatas, aonde o objeto de estudo é estático e a-histórico.
Em suma, para se aproximar do sujeito e humanizá-lo temos que ir além da epsitemologia da resposta e encontrarmos a epistemologia da construção...

Está aí o meu convite a auto-reflexão...

Referência do artigo: Rodrigues, J. (2003). Muros nas mentes: Obstáculo da Reforma Psiquiátrica.
Referência do Livro: Rey, G. (2002). Pesquisa Qualitativa em Psicologia. São Paulo: Thomson Pioneira.
Onde encontrei o artigo: www.bvi-psi.org.br